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AFETUOSOS COLÓQUIOS COM O PAI
Tendo-me entretido no restante da noite nestas preces e ofertas e em afetuosos colóquios com meu Pai, ao aproximar-se o dia, empreguei o tempo em louvores, como costumava, fazendo os habituais oferecimentos. Tendo depois entrado no Templo e adorado a meu Pai, orei e pedi-lhe que, assim como chegara o terceiro dia de minha permanência em Jerusalém e da terceira discussão com os doutores e ministros do templo, símbolo dos três anos de minha pregação, subsequentes ao ano trigésimo de minha idade, já completo, supliquei-lhe que naquele terceiro dia destacasse mais as suas misericórdias relativas àquele povo, iluminando-o e fazendo com que aprendesse a minha celestial doutrina. O Pai prometeu-me fazê-lo. Havendo-me entretido com Ele, fruindo das perfeições divinas, saí do templo e acompanhado dos pobres, como de costume, ia ensinando-lhes as verdades eternas.
AMOR E UNIÃO AO PAI.
Não parece grande coisa, esposa minha, ouvires que eu tratava no íntimo continuamente com o Pai, sem deixar de tratar com Ele um momento sequer. Estou-lhe perfeitamente unido, porque, sou, enquanto verbo, uma mesma coisa com Ele. Daí não podia nem por um só momento esquecer-me dele, nem estar separado dele. Sendo uma só coisa com Ele, conhecendo as suas infinitas perfeições e mérito infinito, amava-o infinitamente. Experimentava sumo gáudio em amá-lo e ser com Ele uma só coisa. Ardia, pois, o meu coração de excessivo amor a ele, ao refletir na sorte incomparável que à minha humanidade tocara de ser assumido pelo verbo eterno, unido tão perfeitamente a minha alma. Reconhecendo-me, portanto, como verdadeiro filho de um Deus tão grande, vendo as graças infinitas que este grande Deus e Pai havia concedido e comunicado a minha humanidade, achando-me sumamente obrigado por isto e conhecendo seu mérito infinito, ardia, como disse de amor imenso para com Ele. Estando unida ao verbo a minha humanidade, enquanto Deus também eu, infinito, infinitamente o amava, amo e amarei por uma eternidade. Não passava um só instante sem fruir da companhia do Pai e tratar com ele, o que muito me deleitava. Se os que amam querem estar sempre juntos, deleitando-se muito por tal convivência, é possível considerar que deleite a aprazimento experimentava em tratar com meu Pai, que eu amava infinitamente e infinitamente me amava.
COM OS DOUTORES
Havendo-me entretido um tanto com os pobres, a ensinar-lhes o caminho da salvação eterna, voltei ao templo e lá passei e orar ao Pai, à espera de que se reunissem os Doutores, os Anciões e todos os Ministros do Templo. Estes vieram a tempo e coloquei-me no meio deles. Comecei novamente a disputar e explicar-lhes as escrituras, com maior eloquência, graça e sabedoria. Antes, porém, de começar a argumentar, orei ao Pai que fizesse ir lá a querida Mãe, a qual andava me procurando pela cidade, com seu esposo José. Falando-lhe ao coração, convidei-a a ir ao templo para ouvir-me disputar com os doutores. Ela, ouvindo a voz interna e reconhecendo a minha voz, que frequentemente lhe falava, veio com toda a solicitude. Lá chegou justamente quando eu estava a discorrer. Logo que comecei a explicar as divinas escrituras aos ouvintes, todos ficaram atônitos. Arrebatavam-se-lhes os corações, que muito se deleitavam ao ouvir-me e em si mesmos iam se maravilhando da insólita consolação e gosto que experimentavam. Todos tiveram a inspiração divina de crer que eu era o Messias prometido. Tiveram-na tão veemente que lhes era preciso grande violência para rejeitá-la, porque à inspiração seguia-se também meu discurso a manifestar a cada um que já viera o Messias prometido. Em seguida, mais claramente comunicava-lhe que, na verdade, eu o era, quando ao ser avisado por um Ministro do templo, que haviam chegado fora do Templo minha Mãe e José, a minha procura, respondi-lhe em alta voz, de modo que todos me ouvissem: “Quem é minha Mãe e quem são meus irmãos? Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, e minha irmã e minha mãe”(MT,12,48-50). Fazia-os conhecer claramente ser eu o Filho de Deus. Igualmente pela minha resposta a minha querida Mãe, quando se queixou por tê-la deixado. Respondi-lhe em alta voz: “porque me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? (Lc 2,49). No entanto, com todas as inspirações divinas, toda a minha sabedoria e graça, todo o modo de falar tão claro que tivera, e tudo o que experimentavam em si mesmos ao ouvir-me discorrer, jamais quiseram seus corações endurecidos render-se, nem sua mente persuadir-se a crer ser eu o Messias prometido. Tanto pôde neles a soberba, a dureza, a ambição que se mostravam obstinados cada vez mais.
Continuei a discorrer com a habitual graça e sabedoria divina, estando presente também minha querida Mãe e José, os quais se encheram de alegria ao ouvir-me, e ao ver a atenção e o gosto com que me escutava cada um. Terminado meu discurso, recebi de todos grande aplauso e principalmente dos doutores, que não podiam negar haver em mim uma sabedoria soberana. Mas, nenhum quis reconhecer-me como verdadeiro messias.
Alegrava-me muito explicar-lhes as escrituras divinas e manifestar a todos as grandezas e obras admiráveis de meu Pai. Era, no entanto, muito amargurada a minha consolação ao ver a dureza daqueles corações e a obstinação em não se renderem às luzes e inspirações de meu Pai, e às verdades por mim reveladas. Ofereci esta amargura ao Pai e pedi-lhe se compadecesse e suportasse a dureza daqueles corações. Não interrompesse a misericórdia para com eles, não retirasse suas graças e luzes. Agradeci-lhe depois por tudo que obrara nas almas dos ouvintes e pelas suas grandezas e misericórdias a eles manifestadas por meu intermédio. Louvei-o, exaltei-o e agradeci-lhe por parte de cada um, uma vez que não havia quem referisse a Ele toda a glória e honra por aquilo que ouvira de mim. Tributavam, efetivamente, louvores a minha Mãe e a José, pelas grandezas que em mim descobriam, mas não o davam ao Pai, a quem tudo se devia. Supri a esta omissão por parte de todos, e supliquei ao Pai desse a todos os meus irmãos verdadeiro sentimento e luz especial, de tal modo que ao ouvirem e verem em alguma criatura algo de admirável e digno de louvor, logo louvem o Criador, pois o Criador é quem torna a criatura partícipe de todo o bem. Esta é mero instrumento, através do qual meu Pai quer dar mostras de seu poder e destacar as suas misericórdias e obras admiráveis.
GÁUDIO EM REVER A MÃE.
Alegrei-me, pois, muito ao rever minha querida Mãe e perceber a alegria de sua alma por ter-me recuperado. Volvia para ela os olhares enquanto falava aos Doutores, e feria-lhe o coração com dardos de amor. Ofereci ao Pai este prazer e o de minha querida Mãe, e pedi-lhe se dignasse fazer com que experimente parte daquele júbilo cada alma que depois de tê-lo procurado, por fim o encontra. É bem razoável que a alma aflita e cansada, à procura de seu Deus, por fim o encontre e experimente a doçura de seu amor e frua de sua amável companhia. O Pai tudo me prometeu. Ofereci-lhe em seguida todos os padecimentos que suportara naqueles três dias, todas as minhas fadigas ao disputar com os Doutores, porque sendo muito gentil e ainda de tenra idade, embora a divindade me sustentasse, sentia muito na minha humanidade aqueles sofrimentos. Eram tanto mais sensíveis quanto era mais delicado e gentil. Pedi ao Pai que, por estes sofrimentos pelos quais passei se dignasse transmitir força, ânimo e virtude a todos aqueles que têm de afadigar-se e sofrer muito por sua glória e pela salvação das almas. Cada vez mais animados por seu auxílio e por sua graça, cansem-se de bom grado e não julguem pesada demais qualquer tribulação ou fadiga pela glória de Deus e para a realização de sua vontade e dilatação da santa Fé.
QUEIXA E RESPOSTA
Terminada a minha disputa e despedindo-me dos ouvintes, adorei o Pai e agradeci-lhe quanto havia operado em mim. Depois fui procurar a querida Mãe que estava com grande desejo de falar-me e declarar-me sua aflição e a de José. Apenas me viu, disse-me: “Filho, que fizeste? – Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição”. Foi justa a queixa da Mãe querida e justa igualmente a resposta que lhe dei: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? A Mãe querida recebeu a resposta com muita resignação, sem retrucar àquilo que, por luz divina, sabia ser justo. Pedi, então, a meu Pai desse a todos os meus irmãos verdadeira liberdade de espírito, pela qual, ao conhecerem o que devem fazer por sua glória, façam-no livremente, sem consideração à carne e ao sangue, e com liberdade digam, de fato a quem se lamenta, que deve executar o que Deus quer, preferindo sempre a glória e a honra de Deus à satisfação de seus parentes, sem olhar os desgostos a que estes queiram se entregar, para que seja glorificado o Pai e se cumpra a sua vontade.
PARA NAZARÉ.
Depois de me entreter por breve tempo com a querida Mãe e José e consolar muito as suas almas com a minha presença, havendo juntos adorado de novo o Pai e pedido a bênção, partimos de volta a Nazaré. Não tomamos refeição alguma, mas assim em jejum dirigimo-nos para a pátria, bastando à querida Mãe e igualmente a José, o consolo de ter-me encontrado.
Havendo saído de Jerusalém, voltei-me para abençoar aquele povo, e pedi ao Pai fizesse que, nas almas de todos aqueles que lá me haviam ouvido discorrer, ficassem impressas as minhas palavras, e que doravante se confirmassem cada vez mais nas verdades por mim demonstradas e na fé de já ter vindo ao mundo o Messias prometido. O Pai prometeu-me continuar com as suas divinas inspirações e luzes, a fim de se disporem e prepararem para minha recepção, quando com minha pregação me demonstraria entre eles. Mas via a instabilidade daquele povo e sentia com isso grande pesar. Ia-me consolando, contudo, ver que as outras nações corresponderiam bem melhor às graças de meu Pai e alguns estrangeiros mostrar-se-iam mais fiéis do que aqueles do lugar, apesar de serem o povo eleito.
Revelações de Jesus à Soror Maria Cecília Baij
Livro: A vida íntima de Nosso Senhor Jesus Cristo.
15 de outubro de 2008.
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