“- Eu fiquei 71 minutos no Purgatório!

Em vida, fui muito ativo e doei minha existência a serviço da Igreja, em uma Congregação Religiosa. Ali fiz de tudo: Diretor Espiritual, Professor, Superior, Reitor de Colégios e Seminários... e tudo me dava prazer e então tudo eu procurava fazer bem feito! Deixei rastros e saudades por onde passei!

Eu havia recebido uma boa formação na família: meus pais, extremamente fervorosos, ensinaram-me a amar a Deus e a conformar-se com seus desígnios; resignar-se e aceitar seus planos e convites...

Papai e Mamãe, eles mesmos, se doaram completamente a Deus e quase todos os seus filhos seguiram as caminhadas religiosas da Igreja... Eles estão no Céu! (os pais) Deus os coroou! Louvado seja Deus!

Eu vivi por muitos anos, e em todos os caminhos, entre altos e baixos procurei vivenciar o melhor de Deus e transmitir aos outros... E assim, minha vida foi vivida intensamente...

Adoeci e não me conformei!

Como posso adoecer?  – eu reclamava. Tenho muito ainda o que fazer! Não suporto esta cama, este hospital! Preciso sair daqui...

E saí algumas vezes. Porém quando não pude mais sair, começou o meu sacrifício. O esforço foi enorme: precisava sair... Precisava trabalhar...

Como ficam os irmãos? – eu perguntava – os alunos, a fazenda? Mas não consegui sair! Não melhorei! E isto me angustiou muito e comecei a pedir a Deus que me levasse! Afinal, eu já havia trabalhado tanto e já não podia fazer mais nada... Então para que teria de dar trabalho e preocupação a outros? Dar trabalho aos que antes eu ajudara? E pedi insistentemente a morte, quase que, num desespero...

Fui ativo, trabalhador, bom educador. Soube administrar os bens que me foram confiados, soube comandar os colaboradores e subordinados... Agora, na cama, inerte!  Isto me desespera e não posso suportar mais!

E assim, passei meus últimos dias pedindo a abreviação do meu tempo!

E este foi o meu erro maior! A partir daí, você conhece!

De fato, eu conheço: No instante seguinte ao suspiro final, ... foi arrebatado ao Purgatório! Do jeito que era, ou como eu o havia visto pela última vez, em vida: Doente, pálido, sem forças... Na cama de um hospital! Sua pena durou 71 minutos.

- Um minuto para cada ano de seu trabalho – disse São Miguel.

E sua sentença foi: Inerte, sem um só movimento, os olhos também parados e bem abertos olhando o alto! Extasiado, admirado, encantado, mas surpreso: O Céu à sua frente com todo o esplendor... não podia ser tocado! A angústia se via estampada em todo o seu corpo, principalmente em seus lindos olhos brilhantes e vivos e que agora estavam completamente paralisados: Surpresa, angústia, contrição! Setenta e um minutos de espera, sem absolutamente nada poder fazer!

- Por que isto?

- “Não teve paciência! Sua vida sempre ativa não lhe deu tempo de se auto-analisar... E no leito de morte não deu o tempo correto a Deus que então o levou 71 minutos antes do prazo, tendo assim que viver a expiação no purgatório...”

- Mas Deus poderia...

- “Deus veio ao seu encontro e atendeu seu pedido, mas teve de mostrar a necessidade da espera, da calma, da paciência...”

-Bem, afinal não é tão difícil assim:  Ficar parado, inerte...

-“Estes minutos foram os mais dolorosos de toda a minha existência: Por eles passou tudo o que vivi, tudo o que fui, todos os que feri, mas sobretudo, todo o tempo que não tive tempo de conversar com Deus! E 71 minutos foram longos demais! Ah! Se tivesse aguardado um pouquinho mais! Seriam 71 minutos a mais nos braços de Deus! Seriam 71 longos minutos!...”

- “Não havia pecados!- diz São Miguel.  Uma história de amor, vivida para o amor e para o trabalho de Deus. Um santo homem...  Mas, os santos também têm suas fraquezas e, quanto mais santos, maiores as responsabilidades...

“-Mas, o Céu é eterno, e isto vale a pena! Combati o bom combate! Deus seja para sempre louvado! Amém!”