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Pedro Longo fala
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05/04/2008
Revelações Privadas
Como entender as revelações ditas privadas?



 

 O que é uma revelação “privada”? – É uma revelação dada a uma pessoa – mais freqüentemente a pessoas santas – numa visão, aparição ou locução interior, de Nosso Senhor Jesus Cristo ou Sua Santa Mãe Maria, ou outros Santos e Anjos (podendo até mesmo ser uma mensagem direta do Pai Todo-poderoso, como no caso de Santa Catarina de Sena) após a morte do último Apóstolo – a saber, São João Evangelista, que morreu em 103 D.C –, que foi quando se encerrou a Revelação Pública e Universal, e que está contida na Bíblia e na Tradição Apostólica, ambas constituindo “um só sagrado depósito da Fé, de onde a Igreja haure a própria certeza sobre todas as coisas reveladas.”(1) Assim, a completa e definitiva Revelação de Deus “É a que se realiza no Seu Verbo encarnado, Jesus Cristo, mediador e plenitude da Revelação. Ele, sendo o Único Filho de Deus feito homem, é a Palavra perfeita e definitiva do Pai. Com o envio do Filho e o dom do Espírito, a Revelação está agora plenamente realizada, ainda que a fé da Igreja tenha de captar gradualmente todo seu alcance ao longo dos séculos.”(2)

 Catecismo da Igreja Católica, Art. 67, sobre revelações privadas:

“No decurso dos séculos houve revelações denominadas “privadas”, e algumas delas têm sido reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas não pertencem, contudo, ao depósito da fé. A função delas não é “melhorar” ou “completar” a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a viver dela com mais plenitude em determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o senso dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou de seus santos à Igreja.”

 Compêndio do Catecismo, Art. 10:

 Que valor têm as revelações privadas”?

Ainda que não pertençam ao depósito da fé, elas podem ajudar a viver a mesma fé, desde que mantenham sua estrita orientação para Cristo. “O Magistério da Igreja, a quem cabe o discernimento de tais revelações privadas, não pode, portanto, aceitar as que pretendem superar ou corrigir a Revelação definitiva que é Cristo.”

 No documento da Congregação para da Doutrina da Fé, A Mensagem de Fátima, sobre o texto do terceiro segredo de Fátima:

“1. A autoridade das revelações privadas é essencialmente diversa da única revelação pública: esta exige a nossa fé; de fato, nela, é o próprio Deus que nos fala por meio de palavras humanas e da mediação da comunidade viva da Igreja”. A fé em Deus e na sua Palavra é distinta de qualquer outra fé, crença, opinião humana. A certeza de que é Deus que fala, cria em mim a segurança de encontrar a própria verdade; uma certeza assim não se pode verificar em mais nenhuma forma humana de conhecimento. É sobre tal certeza que edifico a minha vida e me entrego ao morrer.

 2. A revelação privada é um auxílio para esta fé, e manifesta-se credível precisamente porque faz apelo à única revelação pública. O Cardeal Próspero Lambertini, mais tarde Papa Bento XIV, afirma a tal propósito num tratado clássico, que se tornou normativo a propósito das beatificações e canonizações: “A tais revelações aprovadas não é devida uma adesão de fé católica; nem isso é possível. Estas revelações requerem, antes, uma adesão de fé humana ditada pelas regras da prudência, que no-las apresentam como prováveis e religiosamente credíveis.” O teólogo flamengo E. Dhanis, eminente conhecedor desta matéria, afirma sinteticamente que a aprovação eclesial duma revelação privada contém três elementos: que a respectiva mensagem não contém nada em contraste com a fé e os bons costumes, que é lícito torná-la pública, e que os fiéis ficam autorizados a prestar-lhe de forma prudente a sua adesão. Tal mensagem pode ser um válido auxílio para compreender e viver melhor o Evangelho na hora atual; por isso, não se deve desmerecê-la. É uma ajuda que é oferecida, mas não é obrigatório fazer uso dela. (...)

 Como podem classificar-se de modo correto a partir da Escritura? Qual é a sua categoria teológica? A carta mais antiga de S. Paulo que nos foi conservada e que é também o mais antigo escrito do Novo Testamento, a primeira Carta aos Tessalonicenses, parece-me oferecer uma indicação. Lá, diz o Apóstolo: “Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias. Examinai tudo e retende o que for bom.”  Em todo o tempo é dado à Igreja o carisma da profecia, que, embora tenha de ser examinado, não pode ser desprezado.”

 E em 1999, o Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (o mesmo que assinou o documento – A Mensagem de Fátima – citado aqui), deu uma entrevista sobre profecias e profetas na Igreja. Tiramos alguns pontos que nos esclarecem sobre essas profecias e revelações “privadas”:

  “Sim que, a redação final do livro do Apocalipse põe fim a toda a profecia, é uma tese que existe, mas que, a meu ver, procede de um duplo desprezo”.

 Primeiro, esta tese pode dar a impressão de que, do fato de Cristo ter vindo, a Sua própria vinda nos autorizaria a pensar que não há nada mais a esperar e que o profeta já não tem a sua razão de ser, precisamente porque a missão do profeta é essencialmente uma missão de esperança. Ora, é um erro porque Cristo veio em carne e, bem mais, Ele Próprio ressuscitou “no Espírito Santo”. Esta nova presença de Cristo na história da humanidade, a saber, nos Sacramentos, na Sua Palavra, assim como no coração de cada homem, é a expressão, mas também o princípio do Advento definitivo de Cristo, que tomará posse de tudo e em tudo . Isto leva-nos a dizer que o Cristianismo é por natureza, em si mesmo, um movimento porque vai ao encontro do Senhor, que voltará a vir, uma vez mais. E o encontro com Cristo, pela segunda vez, não será já o mesmo que pela primeira, muito simplesmente porque já veio uma vez, mas subiu ao Céu. E esta é a razão pela qual a esperança continua a ser algo de inerente ao Cristianismo como estrutura, porque é orientada para o Senhor ressuscitado e subido ao Céu, e que prometeu regressar em glória. A este propósito, a Eucaristia foi sempre compreendida como um movimento da nossa parte para o Senhor, para O encontrar na fé. É um sacramento que incorpora a Igreja.

 Por conseguinte, é um desprezo pensar que pelo fato de o maior profeta, Cristo, cuja presença pode cumular tudo, ter já vindo uma vez, essa dimensão de esperança que encontramos no tempo dos profetas do Antigo Testamento já não existe no Cristianismo, inaugurado pelo Novo Testamento. É um mal entendido que se deve evitar. Pelo contrário, é necessário dizer que mesmo o Novo Testamento contém necessariamente nele próprio uma dimensão de esperança, como espécie de estrutura que lhe é inerente. É sempre necessário, acreditar primeiro, e a seguir esperar. E ser servidor da esperança cristã faz parte essencial da fé do novo Povo de Deus que todos nós somos.

 O segundo desprezo é uma compreensão reducionista e intelectualista da Revelação, que pretende considerá-la como um tesouro, verdades reveladas a conhecer que são tão completas, que nada mais se lhes pode já acrescentar. Ora, a verdadeira Revelação é um acontecimento em que todos nós somos convidados a encontrar Deus face a face. No fundo, a Revelação quer dizer que Deus Se dá a todos nós, participa na nossa história, associa-Se e une-Se a nós. Na medida em que a Revelação se define como o encontro entre dois seres, um humano e o outro divino, ela tem também um caráter comunicativo, cognitivo. E é neste sentido que ela implica e mesmo necessita do conhecimento das verdades reveladas.

 Compreendendo a Revelação desta forma, pode agora dizer-se que, com Cristo, a Revelação atingiu o seu fim. De fato, segundo a bela expressão de São João da Cruz: “Se Deus falou pessoalmente, não há nada mais a completar.” Do mesmo modo, já ninguém pode deixar de dizer que o Verbo de Deus está presente, no meio de nós. Deus já não pode dar ou dizer algo maior que Ele Mesmo. Quanto a nós, não nos resta mais do que penetrar dia-a-dia neste mistério da Fé, justamente porque nós, os Cristãos, recebemos esse dom total de Si, que Deus nos fez pelo Seu Verbo feito carne. Isto, lembremo-nos, não é senão um ponto, nesta nossa compreensão da “profecia”, isto é, como ligação com o ato de esperar do crente. (..)

 Em matéria de teologia, o termo "privado" não quer dizer que uma só pessoa está implicada, e não as outras. É um termo que significa o grau e que determina o contexto. Encontramo-lo, por exemplo, na expressão "missa privada". O que importa fixar aqui, é pura e simplesmente que as "revelações" dos místicos cristãos ou dos profetas do tempo da Igreja jamais terão o mesmo lugar que ocupa a revelação bíblica, e que elas se subordinam a esta, nos enviam para ela e por ela se explicam. Por conseguinte, não se pode dizer que tais revelações não têm importância para a Igreja. Basta citar as aparições de Lourdes ou de Fátima, para provar o contrário. Estas aparições são, afinal, uma memória da revelação bíblica. E é justamente porque elas o são que têm uma autêntica importância.”

 “O conceituado Pe. Augustin Poulain SJ – especialista no tema da mística, e ele próprio um místico – assevera de seu lado que as revelações particulares autênticas são ‘muito úteis’: ‘É claro que as revelações ou visões que são de origem divina estão isentas de perigo e são muito úteis, pois a graça só age para nosso bem, e quando é de ordem tão extraordinária, não pode ser destinada a um bem que seja medíocre.’O Pe. Arintero OP constata que as revelações privadas são ‘utilíssimas para a edificação dos fiéis, e mesmo de toda a Santa Igreja.’ O Pe. Iturrioz SJ acrescenta que as ‘intervenções sobrenaturais’ refletem ‘a providência e, por assim dizer, a política sapientíssima de Deus.’ E o teólogo francês Pe. “Forget afirma que as aparições, longe de serem inúteis ou indignas de Deus’, elas apresentam grandes vantagens’, testemunham a bondade do Criador’, e são para o homem um dos meios de conhecer seguramente a religião revelada.”

 E, finalizando, São Luis Maria Grignion de Montfort:

 “Todos nós sabemos que há três tipos diferentes de fé, pelas quais acreditamos em diferentes tipos de história”:

Às histórias da Santa Escritura devemos fé Divina;

      às histórias não concernentes a assuntos religiosos, que não militam contra o bom senso e que são escritas por autores confiáveis, nós damos o tributo de fé humana; enquanto que, às histórias sobre assuntos santos, que são contadas por bons autores e não são contrárias à razão, fé ou moral, no mais leve grau (mesmo que às vezes elas lidam com acontecimentos que são acima dos eventos ordinários), nós pagamos o tributo de fé piedosa.

 Eu concordo que devemos ser nem crédulos demais nem tão críticos, e que nós deveríamos lembrar que ‘virtude toma o percurso central’ – mantendo um feliz equilíbrio em todas as coisas para fazer encontrar corretamente onde repousa a verdade e a virtude. Mas por outro lado, eu igualmente sei que a caridade facilmente nos guia a acreditar em tudo que não é contrário à fé ou moral: ‘A Caridade... tudo crê;’ Do mesmo jeito, o orgulho nos induz a duvidar até das bem autenticadas histórias, na opinião de que elas não são encontradas na Bíblia.

 Esta é uma das armadilhas do diabo; hereges do passado que negaram a Tradição caíram nela e pessoas críticas demais de hoje estão caindo nela também, sem mesmo perceber isto.

 Pessoas deste tipo recusam-se a acreditar o que não compreendem ou o que não é do seu apreço, simplesmente por causa do seu próprio espírito de orgulho e independência.”

 Bruno Venturim Bento

 




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