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Devoção à Virgem Maria
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01/01/2014
A sedução de Eva
Comparada à Anunciação à Maria



A SEDUÇÃO DE EVA
 
 
As Escrituras divinas falam de dois tratados da mais elevada importância, concluídos por dois anjos com duas mulheres misteriosas; a saber: o tratado de Satanás com Eva, consignado no livro do Gênesis, que é o princípio da Bíblia; e o do anjo Gabriel com a Virgem Maria, relatado pelo evangelista São Lucas. Esses dois tratados, concebidos em um sentido bem diferente, fixaram os destinos do gênero humano; opostos entre si, em seu espírito, em seu fim, eles são como dois Evangelhos, dignos de fixar toda a nossa atenção, capazes de exprimir a conveniência que existe entre dois fatos tão opostos entre si, unidos, contudo, por relações precisas e exatas, servindo para realçar a harmonia maravilhosa dos desígnios de Deus, a ordem de seus conselhos, os laços secretos, porém reais e necessários, que existem entre seus maiores mistérios.
 
Eva ainda é virgem quando o anjo das trevas se aproxima dela para seduzi-la; é uma virgem que o anjo da luz saúda ao saudar Maria: Missus est angelus Gabriel ad virginem. Eva, ainda que virgem, tem um esposo: assim como Maria, que ainda que virgem, também tem um esposo: Ad virginem desponsatam Joseph.
 
As primeiras palavras que a serpente dirige à Eva, a esta mulher desafortunada, supõem e exaltam nela um sentimento presunçoso de independência perante Deus, um mérito, uma elevação que ela realmente não possui. A serpente lhe diz: “Por que Deus vos proibiu de comer indistintamente de todos os frutos do Paraíso?” Cur proecepit vobis Deus ut non comederetis de omni ligno Paradisi? O que quer dizer: Com qual direito, com qual autoridade Deus vos fez uma proibição semelhante? O que lhe obriga a se submeter a Ele?
 
Ao contrário, as primeiras palavras dirigidas à Virgem Maria, pelo anjo Gabriel, anunciam nesta mulher aventurada um mérito real, uma elevação, uma santidade eminente, a posse completa, perfeita da graça, a união mais íntima com Deus; o anjo lhe diz: “Salve, Maria, cheia de graça; o Senhor é convosco”: Ave Maria gratia plena; Dominus tecum. Ora, eis os efeitos muito diferentes destas duas saudações. A linguagem da mentira e da impostura, que deveria perturbar a alma de Eva, ao contrário, a embriaga com uma louca complacência em seu pretendido mérito, a enche com um orgulho desmedido. Ela começa por se crer no fundo de sua alma o que ela realmente não é: ela carrega a presunção até o ponto de colocar em dúvida a veracidade das ameaças divinas, visto que ela responde a Satanás: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais”: De fructu vero ligni, quod est in medio Paradisi, proecepit nobis Deus ne comederemus, et ne tangeremus illud, ne forte moriamur. Ao contrário, a linguagem da sinceridade e da verdade, que deveriam tranquilizar a Virgem Maria, deixá-la satisfeita consigo mesma, a coloca na perturbação, no medo. Sua humildade lhe faz crer que ela é indigna de uma saudação tão sublime, tão magnífica, ela se assusta no lugar de se comprazer, e não consegue entender a razão desta abordagem da parte do anjo, nem qual pode ser seu intuito: Turbata est in sermone ejus, et cogitabat qualis esset ista salutatio?
 
Logo, Eva se ufanou, e Maria se humilhou; Eva fica satisfeita consigo mesma, e Maria teme, uma na alegria interior de uma vã complacência, outra na reserva de uma sabedoria prudente.
 
Certamente Eva não está totalmente segura. As ameaças divinas que ainda ressoam em seus ouvidos não lhe permitem se abandonar ao pecado, sem uma apreensão secreta. Eva teme, ela experimenta a repugnância; porém o único motivo de sua hesitação, de seu temor, é a possibilidade de incorrer, não na desgraça de Deus, violando sua proibição, mas no castigo da morte, cuja ameaça está suspensa acima de sua cabeça. Ela se tornaria voluntariamente culpável, se ela pudesse evitar o castigo. Não foi o pecado que a deteve; foi o temor da morte que poderia seguir; se Eva pudesse se tranquilizar contra o castigo, ela já tinha se decidido a prevaricar: Ne forte moriamur.
 
Com Maria é diferente; o que ela teme acima de tudo, tornando-se Mãe de Deus, é faltar com a promessa que ela fez a Deus de permanecer virgem. Pouco lhe importa a sublime dignidade à qual ela se vê chamada, se ela tiver de cometer uma grande falta. A única dificuldade que ela vê para se tornar Mãe de Deus não é o sacrifício que sua nova condição deverá lhe impor, mas a perda de sua virgindade, que deve ser consequência dela. Ela é submissa à vontade divina, mas com a condição de que lhe seja permitido ser fiel ao seu voto: Quomodo fiet istud, quoniam virum non cognosco? Eva teme por um amor desordenado da vida terrestre; Maria teme por um legítimo amor da virtude de pureza; Eva experimenta um temor interessado, sensual, servil, Maria só tem em vista a satisfação de Deus; e o temor de Maria é por isso santo, generoso. O temor desordenado de Eva é um novo pecado; o de Maria é um novo ato de virtude. E justamente, uma é punida por sua prevaricação, a outra é recompensada por sua virtude; pois, como punição de seu temor culpável, Eva cai no erro: Maria é recompensada pela fidelidade que ela conserva em seu temor. Eva encontra a mentira, Maria encontra a verdade. A mentira tranquiliza Eva em seu temor, nascido do pecado, quando a serpente lhe diz: “Não, não; eu vos asseguro o contrário, vós não morrereis”: Nequaquam moriemini. A verdade tranquiliza Maria em seu temor nascido da mais pura virtude, visto que o anjo lhe diz: “Não temas, ó Maria, por vossa virgindade: a concepção que vos anunciou não será o efeito da fecundidade natural do homem, mas da virtude sobrenatural do Espírito Santo e do poder de Deus”:Ne timeas Maria. Spiritus sanctus superveniet in te, et virtus Altissimi obumbrabit tibi.
 
Mas como ambas ainda estão em dúvida, Satanás encoraja Eva à rebelião; Gabriel exorta a Virgem Maria à obediência. Um promete uma grande mentira, sacrílega, impossível, persuadindo Eva de que ela se tornará semelhante a Deus: Sed eritis sicut dii. O outro promete uma grandeza verdadeira, real, cuja santidade será o fruto, como ela é o princípio, a base, o meio: Quod nascetur ext te Sanctum, vocabitur Filius dei. Eva e Maria, ambas cedem e dão seu consentimento às instâncias que lhes são feitas, uma, por causa do desejo de se tornar em tudo submissa, obediente e fiel a Deus; a outra, por causa do desejo orgulhoso de se tornar semelhante a Deus. Eva, simples criatura de Deus, se louva em seu coração de logo ser igual a Ele; Maria, já Mãe de seu Deus, se reconhece indigna de ser sua humilde serva: Ecce ancilla Domini. A primeira destas duas mulheres, temerária, imprudente, crê na linguagem de Satanás, e ela mergulha na desgraça do pecado com todos os seus desafortunados descendentes! A segunda, Maria, crê nas palavras do anjo Gabriel: e ela se torna feliz com todos os filhos do cristianismo, que se tornaram sua posteridade espiritual, pela obra da Redenção, da qual ela é o canal. Em nossa primeira mãe, se cumprem as ameaças de Deus, cujas ela não dá a mínima; em nossa segunda mãe, se cumprem as divinas promessas, objeto de todas as nossas esperanças: Beata quae credidisti! perficientur in te quae dicta sunt tibi a Domino!
 
Ora, eis porque, diz São Pedro Crisólogo, um anjo foi enviado à Virgem Maria, para concluir com ela o precioso tratado de nossa Redenção e de nossa salvação: foi afim que o homem voltasse à vida pelos mesmos meios que o conduziram à morte: Agit cum Maria angelus de salute, quia cum Eva angelus de ruina egerat, ut homo eisdem cursibus, quibus dilapsus fuerat ad mortem, rediret ad vitam. A malícia do Demônio fez uma mulher cooperar com o primeiro pecado do homem, por Adão; a divina Sabedoria fez outra jovem mulher virgem cooperar, com um novo Adão, na destruição do pecado: Isso, diz São João Crisóstomo, a fim de fazer os dois sexos concorrerem à nossa redenção, como eles tinham concorrido à nossa perda; assim Deus restabeleceu pela Virgem Maria tudo o que Eva tinha destruído, como Jesus Cristo resgatou tudo o que Adão tinha perdido: Restauratur per Mariam, quod per Evam perierat; per Christum redimitur, quod per Adam fuerat captivatum. (De interd. Arb.)
 
Tal é a razão pela qual vemos Maria unida aos principais mistérios de Jesus Cristo; e os evangelistas tiveram o cuidado de nos fazer observar isso, afim que não separássemos o que o próprio Deus uniu: e a Igreja católica também, pelo cuidado que ela tem em unir em todas as suas orações o nome de Maria ao santo nome de Jesus.
 
No mistério que expomos aqui, o evangelista São Mateus assinala expressamente que os reis Magos do Oriente, quando eles chegam à gruta de Belém, encontram o menino com Maria, sua mãe:Invenerunt puerum cum Maria matre ejus (Mt II), querendo nos indicar por isso que nesse mistério, a Mãe participa à clemência do Filho; com efeito, a estrela luminosa da própria salvação, Maria, coopera com Jesus Cristo na conversão dos reis Magos e de toda a gentilidade à fé católica.
 
VENTURA, R. P. J.. Les beautés de la foi. Tome Ie. Paris: Louis Vivès, 1855, p.335-341.
 
Fonte:Dominus Est
 




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